quarta-feira, 23 de março de 2011

Despretensiosas divagações sobre coisas simples.


Hoje me permito falar de coisas simples. Na verdade neste momento, é a coisa que me deixa mais feliz no mundo, adorar as coisas simples. LER. Nossa, como foi bom passar um tempo sem degustar um bom livro para quando faze-lo , poder dar de fato o seu devido valor de merecimento e prazer. Estou lendo “Minhas queridas” que são 120 cartas inéditas da Clarice Lispector para suas irmãs Elisa e Tânia. E, que maravilha! Estou me deleitando com essa Clarice irmã, amiga, humana demasiada humana, que constrói em simples cartas um coloquialismo poético que difere da densidade de suas obras, embora tenham também uma veia profunda, há a despretensão, claro, se tratavam de cartas, entre irmãs, cartas sobre coisas simples. Mas, não sobre coisas sem importância. Tenho nesses últimos anos, felizmente me certificado cada vez mais que o simples é o que mais importa mesmo. E isso me deixa feliz.

Não tenho irmãs,( não de pai e mãe) mas tenho amigas-irmãs, e essas já me inspiraram à escrever-lhes diversas cartas. Desde criança tenho esse hábito, que infelizmente não tem sido muito frequente, porém quando ocorre, é verdadeiro em sua constância e feitura. Mas, voltando à Clarice e suas irmãs, que vêm me enchendo o coração de amor e simplicidade a cada página, quero falar sobre, ENCONTROS. Há um ano moro em uma cidade que tenho família, e conhecidos, e que a carência de verdadeiros amigos me faz sentir pobreza no dia-a-dia, e que RIQUEZA quando finalmente os encontro em minha vinda à capital.

Acho que a admiração e adoração do simples se dá mesmo, por esse processo de falta. A ausência do que comumente nos era fácil e garantido, nos permite direcionar de outra forma o olhar displicente e transforma-lo em atento e apurado. Sair do senso comum e entrar no senso simples, sem que isso designe um juízo desmerecedor, menor, mas sim belo e real.

A beleza não é algo à ser entendida, mas, sentida, e quando não há essa necessidade de entendimento há o simples, o ser pois simplesmente se é.

Rever meus amigos, conversar, sentir a reciprocidade de bons fluídos naquela comunhão é um dos prazeres mais simples que podem existir. É DE GRAÇA. Não carece marca nem há níveis de competição, só alegria quase pueril. Simples.

Em uma das cartas, dessa vez destinada à Tânia, Clarice escreve: “Querida, divirta-se, vá ao cinema, leia os livros que você quiser, faça um pouco de regime, fique contente”. Em outra encerra a carta dizendo: “Sejam felizes, que eu serei também, minha vida está ligada de vocês”. Vez por outra ela fala em vestidos e cortes de tecido, mas sem se estender muito sobre o assunto, fala da beleza, ( que é o que importa) e pronto.

A cada dia, tenho me sentido mais inclinada à simplicidade. Consumismo, informações demasiadas, guerras de ego, feiras das vaidades tem me deixado nauseada e repelido muitas vezes meu desejo de troca com os outros, sinto que sobraram poucos como eu, ou pelo menos poucos eu conheço, me refugio no silêncio e na descrença , e outras vezes me submeto ao cínico ato de dançar no mesmo ritmo, mas logo enjoa.

Acho que estou destinada à aprender a desaprender, e isso me anima muito à viver. Tirar das pequenas coisas tudo que preciso, perceber nos pequenos momentos os grandes, e aproveitar. Isso é minha meta.

Não querer ser diva, ou a melhor, ou a quem tem mais, é libertador. Ser simples é ser tudo, é ter tudo.



crédito da imagem: Google imagens


Um comentário:

naylini disse...

Délia... ando sem muitas palavras para mostrar afeto e saudades. Mas... como são apenas as palavras que faltam, parafraseio Clarice - Sejas feliz, que serei também, minha vida está ligada a sua.

Lindo!
te amo!
beijos